quarta-feira, 31 de março de 2010

Acordei-me assustada olhando para o relógio: meia noite e meia. Puxa vida, ainda. Toda a eternidade escondia-se naquela noite. A noite até então durava anos, que passavam como num filme em câmera lenta. Levantei-me e olhei pelo espelho, estava escuro, mas a reflexão da lua resultava em uma fresta de luz direta na parede em que ficava um pequeno espelho individual pendurado. Olhei-me nos olhos. Era difícil, doía. Talvez por refletir uma imagem que eu não deveria ver. Olhos vermelhos e inchados, consequência de uma soneca após umas três horas de choro. E ainda meia noite e meia... A soneca poderia ao menos tornar-se em um sono absurdamente pesado, assim, os pensamentos impróprios não voltariam a me atormentar. Tudo pelo fato da indecisão, da incerteza. Ser mulher realmente não é fácil. Incrível como tudo a qualquer hora é motivo para decepção. Bom, viu só, começar a me auto questionar plena meia noite e meia de uma noite que não estava sendo uma das melhores, me fez a voltar a chorar. Inconscientemente, automaticamente, profundamente. Me via em um choro gostoso de chorar, a cada fungada me sentia com mais fôlego. E o espelho, mais uma vez refletia uma imagem indesejada.
Noite passada ele esteve aqui, e era para ser um motivo de hum.. alma renovada, como costumo dizer. Só que havia algo na noite passada pesado, algo que me mostrasse que algumas coisas(talvez todas as coisas) mudaram. A saudade que me matava, ontem foi morta. Entretanto acabara de morrer todas as esperanças ali mesmo criadas. Ao me olhar no espelho eu via a minha própria ilusão. E essa solidão criada por mim mesma, me fortalecia mais. O motivo da criação dessa solidão é que "apenas o autor conhece detalhes de sua obra", ninguém entendia o estrago que ele poderia fazer na minha vida, um estrago imediatamente trágico, um estrago lentamente planejado, ou apenas um estrago. Coisa boa não havia de ser. Coisas boas tem finais felizes. E tudo acabara ali. Três horas de choro, olhos vermelhos e pensamentos atormentadores. Lembrei-me que algumas amigas ("amigas"), sempre me dizem que não vale chorar por ninguém. Acredita que isso me fez chorar mais? Será só eu que acredito que chorar é uma forma de desabafo? E na solidão em que me encontrava não havia outro modo. Ao lembrar dos seus olhos, do seu sorriso. Será que choro por amor? Amor. Nunca pensei que assim fosse. Nunca pensei que amar doeria. Talvez não ame. Amor destrói barreira. E nenhuma barreira além de travesseiros foram destruídas pelo meu vulgo amor. Trocaria a palavra amor por necessidade. Eu necessito, por isso choro. Necessito dos momentos juntos. Necessito respirar o mesmo ar, olhar e ser olhada. Necessito até dividir lágrimas.
Deitei-me. O espelho já não me trazia respostas imediatas e o sono voltava. Talvez tivesse mais um dos sonhos que me faz acordar bem, talvez não passaria de um sonho impossível.
" Oi linda, segure a minha mão.
E ficamos ali, durante uma noite inteira. Eu só queria estar ali, segura."



* Só há uma coisa que faz com que um sonho seja impossível: O medo do fracasso.



ch

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